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Samu – Meditação em Ação

Samu – Meditação em Ação

A Prática da Atividade Diária

Na nossa prática Zen Budista, temos vários atividades que focalizam diferentes aspectos de nosso treinamento: o Zazen (meditação sentada), o Kinhin (meditação andando), a Prática do Cerimonial (meditação no ritual) e o Samu, que é a Prática da Atividade Diária (meditação em ação). A prática do Samu, em particular, é traduzida pelos praticantes em quase todos os centros de prática como “trabalho” Mas é preciso observar que a palavra “trabalho” pode trazer muitas conotações negativas.

Na tradição judiaco-cristã, por exemplo, o trabalho foi o castigo dado ao homem por ter comido da maçã do conhecimento do bem e do mal (a dualidade). De certa forma, como “Deus descansou no sétimo dia”, parece que a grande meta da vida tornou-se poder “descansar”, desfrutar do ócio. Frequentemente, em casa, depois do “trabalho”, dizemos que estamos “cansados” quando alguém nos pede para ajudar com uma tarefa da casa, como ajudar a secar a louça. No entanto, quando alguém nos convida para jogar futebol ou ir dançar, de repente já não estamos mais “cansados”. O fato é que secar a louça gasta muito menos energia do que jogar futebol ou dançar, mas costumamos definir a terefa de secar a louça como “trabalho” e jogar futebol e dançar como “divertimento”.

Os Estados Unidos, que é um país predominantemente protestante, se beneficiou da interpretação do “trabalho como meio de salvação” – a “ética do trabalho”. Como resultado, o trabalho é valorizado e muitos adolescentes cortam a grama ou cuidam das crianças do vizinho (“babysitting”), entregam jornais e fazem numerosas pequenas tarefas para ganhar um trocadinho e complementar as suas mesadas.

Tentem imaginar isso no Brasil – é quase impossível! Afinal, o Brasil é um país predominantemente católico e não herdou esta “ética do trabalho”. Mais ainda, o Brasil foi um país escravista e, como conseqüencia, traz na mente inconsciente coletiva uma atitude que diz que trabalhar é para os “escravos”, não para as pessoas “dignas”. E pior, quem “manda” nos escravos é um “capataz”, um “maldoso”.

A cultura popular fala da “malandragem” e do “levar vantagem” como se fossem qualidades positivas. Finalmente, a retórica esquerdista argumenta que os trabalhadores estão sempre sendo “explorados” pelos empresários, e que estes roubam do povo. Este retórica coloca os trabalhadores sempre no papel de vítimas e “demoniza” sempre os empresários.

Conseqüentemente vejo numerosos conflitos internos em muitos brasileiros em relação ao trabalho. Vejo muito sofrimento desnecessário, devido a estas atitudes.

Com a “demonização” dos empresários e o fim da escravidão, até mesmo as pessoas bem-sucedidas na sociedade brasileira com freqüência se vêem enfrentando conflitos internos entre a sua vontade de “subir na vida” e estes conceitos negativos sobre o trabalho que estão na mente coletiva inconsciente. Pior ainda: às vezes, ao “subir na vida, ao se tornaram “bem-sucedidos”, se tornam alvos do preconceito dos outros, como se fossem ladrões e capatazes.

Com tudo isso, a prática Zen Budista na qual vejo maior resistência entre os praticantes é justamente o Samu, a Prática da Atividade Diária ou a Meditação em Ação. As Sangas relacionados com o nosso grupo atualmente funcionam em espaços de academias de artes marciais e uma parte da nossa prática é de montar a sala com os zabutons, zafus e altar para a nossa prática Zen e, depois, desmontar a sala, deixando-a em ordem para a prática das artes marciais.

É quase cômico observar como alguns dos praticantes chegam – como se estivessem cronometrando – justamente assim que a sala termina de ficar montada, pronta para o Zazen. Se uma pessoa interpreta o Samu como “trabalho”, é natural que não queira participar do Samu. Afinal, ninguém é louco!

Pelo outro lado, é muito gratificante notar como, depois de um tempo de ajudar a desmontar a sala meio “contra a vontade”, “de cortesia, para não deixar a monja sozinha”, etc, os membros da Sanga já demonstram prazer em praticar o Samu de desmontar a sala, e estão aprendendo a “fluir” nas atividades. Sem necessidade de alguém “supervisionando”, as tarefas acabem sendo realizadas, a sala é entregue para as práticas das artes marciais e os nossos objetos são guardados. Não demonstram pressa para “ir embora”. Saímos todos juntos, quando tudo ficou pronto. O Samu deixou de ser visto como “trabalho”.

Bem, se o Samu não é “trabalho”, então o quê é? Para quê serve?

Vejo um continuum na nossa prática que vai desde o Zazen até o Samu, nos preparando para levar a nossa prática para o mundo “lá fora”, onde não estamos mais cercados por praticantes, por pessoas unidas pela mesma busca espiritual – a nossa Sanga, mas onde estamos cercados por pessoas de todos os tipos e crenças.

No Zazen, a meditação sentada, vamos entrando em contato com o nosso “centro”, com o estado de Paz e Tranquilidade que está aí dentro, disponível para todos nós. Temos poucas distrações, poucos estímulos para nos distrair, facilitando o nosso mergulho interno, facilitando o nosso cultivo deste estado de Paz e Tranquilidade.

Então seguimos para o Kinhin, a meditação andando, onde treinamos a manutenção deste mesmo estado de Paz e Tranquilidade numa ação levemente mais complicada. Precisamos estar atentos ao equilíbrio do corpo ao andar, combinando os nossos passos não apenas com a nossa respiração mas também com o ritmo do grupo, mantendo a mesma distância entre a pessoa à nossa frente e a pessoa atrás de nós. Lidamos com mais estímulos – as sensações nos pés ao andar, o “cenário” que muda quando mudamos de lugar na sala… No Kinhin também já começamos a entrar em contato com as nossas preferências, na medida em que aparecem aqueles pensamentos como “ele está andando muito rápido” ou ficando irritados ao achar que a pessoa na nossa frente está andando muito devagar. Treinamos não nos deixar ser levados por estes pensamentos e sentimentos.

Depois disso vamos para a Prática do Cerimonial, onde recitamos sutras e participamos de atividades “pré-estruturadas”, com poucas variações. Esta prática é freqüentemente muito mal-compreendida, interpretada como mero “ritual” sem valor. Mas é uma prática riquíssima onde não apenas praticamos harmonizar a nossa voz com a voz do grupo (“recitar as sutras com os ouvidos”) mas também incorporamos os ensinamentos dos sutras através da recitação e treinamos manter o estado de Paz e Tranquilidade – e a plena atenção – ao realizar ações e movimentos cada vez mais complicados – na medida em que passamos a treinar as diferentes posições que fazem parte do cerimonial (sogei, mokugyo, doan, jisha, dennan, etc.). Enfrentamos o nosso medo de errar, os nossos sentimentos mistos (talvez até com rebeldia) ao lidar com a exigência de precisão nos movimentos e a exatidão nos toques com os instrumentos, etc. Entramos em confronto com a nossa falta de atenção ao errar algum detalhe sempre que nos distraímos e deixamos de manter a plena atenção. É aí que muitos praticantes ou partem para o “piloto automático” e ritual “morto” ou entram na resistência, fugindo da prática, sem imaginar o quanto estão perdendo.

Finalmente, chegamos ao Samu, a Prática da Atividade Diária, que pode ser entendida como a Meditação em Ação ou a “Medit-Ação”. Frequentemente realizada através das atividades “comuns” como servir o chá, varrer o chão, cozinhar, lavar janelas, também inclui toda e qualquer atividade diária como realizar tarefas no computador, costurar, arrumar uma sala, fazer a contabilidade e o controle financeiro do grupo, escrever cartas, instalar uma estante, etc., etc. e etc. Até mesmo estudar pode ser uma prática de Samu. Pode-se dizer que somente ficariam excluídas as atividades de entretenimento, como assistir filmes ou ouvir música.

Mas o que diferencia estas atividades como “Samu” das mesmas atividades no sentido comum, frequentemente rotuladas como “trabalho”? Ao realizar estas tarefas com o espírito da “prática de Samu”, estamos treinando manter, agora em atividades das mais variadas, aquele mesmo estado de Paz e Tranquilidade que descobrimos no Zazen e que praticamos manter no Kinhin e no Cerimonial. Quando fazemos o nosso Samu junto com outros membros da Sanga, temos o apoio de pessoas com quem temos afinidades, que seguem os mesmos valores e realizam a mesma prática. No entanto, na hora do Samu, entramos em contato com as nossas preferências, os nossos julgamentos. Somos cheios de “eu quero/não quero”, “gosto de fazer isto/não gosto de fazer aquilo”. Por exemplo: “não quero lavar janelas, quero cozinhar!” “Não quero cozinhar, mas aceito secar pratos!” E quantas opiniões descobrimos ter: “quero fazer do meu jeito”, “aquela pessoa faz errado”, “não gosto de trabalhar junto com fulano”, “aquilo é serviço de mulher!”. Descobrimos a nossa tendência de querer tagarelar ou o nosso hábito de fazer as coisas “no piloto automático” em lugar de silenciosamente manter a plena atenção na nossa atividade. Temos a oportunidade de treinar voltar para o nosso centro, mergulhar no estado de Paz e Tranquilidade, sair das dualidades de nossas preferências, julgamentos e opinões e fluir com a atividade, aprendendo a simplesmente fazer a atividade que está à nossa frente.

Que bela preparação para levar a nossa prática “ao mercado”, ao mundo “lá fora”, à nossa convivência com os outros na nossa família ou em nosso local de trabalho!

Que os méritos de nossa prática se estendem a todos os seres, para que, junto com todos os seres, realizemos o Caminho de Buda!

 

Artigo transcrito do site da Monja Isshin Havens:
http://monjaisshin.wordpress.com/2009/10/13/qual-o-significado-de-samu/

Vivendo o Tao – Vivendo o Momento

Vivendo o Tao – Vivendo o Momento

por: Derek Lin

Você as vezes se sente incapaz de abandonar fatos do passado, ou de parar de se preocupar com o futuro? Quando me sinto assim, eu lembro uma excelente história Zen:

“Um dia, andando na selva, um homem encontrou um tigre feroz. Ele correu para salvar sua vida, perseguido pelo tigre.

O homem chegou à beira de um precipício, e o tigre estava quase alcançando-o. Sem opção, ele se agarrou a uma parreira com suas duas mãos, e desceu.

No meio do precipício, olhou para cima e viu o tigre no topo, arreganhando os dentes. Ele olhou para baixo, e viu outro tigre, rugindo e esperando sua chegada. E ficou preso entre os dois.

Em seguida, apareceram dois ratos sobre o precipício, um branco e outro preto. Como se ele não tivesse com preocupações suficientes, os ratos começaram a roer a parreira.

Sabia que se os ratos continuassem a roer, chegaria um ponto em que a parreira não poderia suportar seu peso, causando sua queda. Tentou espantar os ratos, mas eles voltavam e continuavam a roer.

Neste momento, ele observou um morangueiro crescendo na parede do precipício, não muito longe dele. Os morangos pareciam grandes e maduros. Segurando-se na parreira com apenas uma das mãos, com a outra colheu um morango.

Com um tigre acima, outro abaixo, e com os ratos continuando a roer a parreira, o homem comeu o morango e achou-o absolutamente delicioso.”

 

Esta história é sobre viver o momento. Apesar de sua situação desesperadora, o homem escolheu não deixar que os perigos potenciais o paralisassem. Ele continuou capaz de aproveitar o momento e saboreá-lo.

A história está cheia de metáforas. Todos os elementos importantes da história são representações que possuem um significado mais profundo.

O topo do precipício representa o passado. É onde o homem esteve e de onde ele vem. Em termos de sua história pessoal, esta metáfora representa todas as experiências e memórias da vida que você já viveu.

Subir pela parreira em direção ao topo do precipício seria revisitar o passado. O tigre no topo representa o perigo de insistir no passado. Se ficarmos constantemente nos punindo por não ter feito certas coisas tão bem como deveríamos, ou se chafurdamos em arrependimento e vergonha sobre os erros que cometemos, então o tigre nos está abocanhado com suas presas afiadas. Se não pudermos abandonar as experiências negativas do passado que nos tornam tímidos e medrosos, ou se nos sentimos vítimas por termos tido um passado traumático ou de abusos, então o tigre está conseguindo dar um mordida dolorosa.

O tigre também representa a impossibilidade de voltar no tempo para corrigir alguma coisa. Algumas vezes gostaríamos de voltar o relógio e refazer algumas coisas. Talvez você pense na resposta perfeita muito depois do momento ter passado; talvez tenha existido alguém muito especial no colégio, de quem você deveria ter se aproximado, mas não o fez; talvez tenha dito algo ofensivo a uma pessoa que amava, e faria qualquer coisa para voltar atrás. Infelizmente, o caminho do tempo não tem volta – o tigre assustador vigia o topo do precipício, e nós, meros mortais, não podemos passar.

A base do precipício representa o futuro. É uma terra desconhecida, um capítulo não escrito. O futuro contém todos os seus sonhos e medos, aspirações e desapontamentos, vitórias potenciais e possíveis fracassos. É o misterioso e incerto domínio do amanhã.

Descer pela parreira, para mais perto da base do precipício é olhar para o frente e especular sobre o futuro. O tigre na base representa o perigo de ficar excessivamente preocupado com o que está por vir – particularmente se isto custar nossa habilidade de agir ou manter a paz de espírito.

Muitos de nós tivemos a experiência de preocupação exagerada com uma futura palestra, exibição ou entrevista de emprego. Pensamos em tudo o que pode dar errado. Não pudemos ter uma boa noite de sono porque estávamos muito nervosos sobre o próximo dia.

E o que acontece quando o evento chega? Nossa inabilidade em relaxar nos desconecta do gênio criativo do Tao. Não conseguimos dar o melhor de nós. Não temos como conduzir todo esse nervosismo para uma ação efetiva; ele se expressa como tensão e stress. Nos descemos muito na parreira, ficamos muito perto do tigre, permitindo que nos morda.

O tigre na base representa também a morte. A morte espera pacientemente por todos nós no futuro. Ela sabe que mais cedo ou mais tarde estaremos ao seu alcance. Quando o tigre ruge para nós, sentimos o vento gelado da morte.

A posição do homem entre os dois tigres representa o presente. Observe que ele está suspenso no meio do precipício. Da mesma forma, também vivemos suspensos entre o passado e o futuro,

O que chamamos de “agora” ou “momento presente” pode ser um conceito bastante difícil de precisar. Assim que se aponta para um instante e o definimos como “agora”, ele passa e não é mais o presente. Outro instante, igualmente fugaz, toma o seu lugar. Por mais que se esforce, não conseguirá fixá-lo.

O presente, como o Tao, desafia uma definição. Por mais que possamos medir o tempo com grande precisão, essa precisão técnica não nos ajuda a isolar uma fatia infinitesimal de duração zero. Apesar de termos a tecnologia para construir um relógio atômico com margem de erro menor que dez bilionésimos de segundo, todos os relógios atômicos do mundo não podem capturar a mágica do momento presente.

Apesar de capturar um instante estar além de nosso alcance, o paradoxo da existência é que o presente é o que temos. Mais: é tudo que podemos ter. Não se pode ter o passado ou o futuro; um já passou irremediavelmente, e o outro ainda está por vir. O presente está aqui e agora, e o possuímos completa e incondicionalmente. Ninguém pode tirá-lo, e só você tem o poder de decidir como usá-lo.

A parreira representa a vida no mundo material. Da mesma forma que o homem segura a parreira com as duas mão, apegamo-nos teimosamente à vida física. Nosso instinto de sobrevivência nos compele a agarrá-la, e não a abandonaremos sem luta.

Descer pela parreira não é uma atividade opcional. O homem, mesmo ameaçado pelo tigre, não tem escolha senão descer. Da mesma forma, assim que nascemos neste mundo não temos escolha senão viver nossa vida de momento para momento. Assim a parreira pode ser vista como o componente principal da samsara – o ciclo da vida e da morte.

Os dois ratos representam a passagem do tempo. São branco e preto apenas para simbolizar o dia e a noite.

Os ratos roem a parreira, fazendo com que fique cada vez mais fraca. isto representa como cada ciclo de dia e noite nos aproxima da morte. Quando a parreira se rompe, o homem cai para uma condenação certa. Da mesma forma, quando um número suficiente de dias e noites tiver passado, a vida a que nos prendemos se romperá, e será o tempo para encontrar inevitabilidade da morte. Não teremos opção senão confrontar o tigre.

Da mesma forma que o homem tenta espantar os ratos, tentamos retardar o envelhecimento e evitar as doenças. Temos indústrias inteiras voltadas a nos manter jovens e saudáveis, ou pelo menos a manter a aparência de juventude e saúde. Considere as vitaminas, suplementos alimentares, tratamentos, spas, terapias de reposição hormonal, operações plásticas, lipoaspirações, transplante de cabelos, outros implantes …

Mas da mesma forma que os ratos voltam o tempo avança e não se retarda para ninguém. Apesar de nossos esforços, nosso tempo neste plano mortal continua limitado.

O morango representa a beleza inesperada, a bem-aventurança, a energia e a vitalidade do momento presente. Está sempre aqui, sempre disponível para os que tem a habilidade de vê-la e fruí-la.

Por exemplo, neste mesmo momento você pode estender sua percepção e sentir o milagre da comunicação que permite que pensamentos e idéias passem entre nós. Você pode sentir como é surpreendente que esta conexão interpessoal seja possível. É um prodígio e uma maravilha, bem aqui, e que não pode ser facilmente expressa em palavras.

Saia e se ponha em comunicação com a natureza. Seja uma testemunha silenciosa do gênio do Tao em ação. Perceba a natureza como interação sem fim de forças naturais, turbilhonando a sua volta e dentro de você. Sinta como os processo naturais se conduzem, do microcósmico ao macrocósmico, regulados por uma inteligência intrínseca muito além de nosso alcance.

Há tanta beleza e bondade em cada momento presente e em cada instante infinito, que seriamos completamente esmagados pela sensação se absorvêssemos muito de uma vez. Na linguagem da nossa história, podemos dizer que o morango está cheio de um suco incrivelmente delicioso.

Colher o morango é aproveitar o momento. Quando o fizer, estará sendo consciente do presente, dirigindo sua atenção para o fluxo que se move através de você, e escolhendo imergir inteiramente no rio do eterno agora.

Provar o morango é saborear inteiramente o aroma da realidade. Quando o fizer, começará a apreciar o milagre da existência e a observar a beleza que está sempre presente, onde quer que olhe, o que encherá seu coração de alegria e gratidão.

Colher e provar o morango é uma coisa mais fácil de falar do que de fazer. Na maior parte do tempo, temos dificuldade em penetrar num forte estado de atenção que nos permite captar o momento e saborear a realidade. Há vários obstáculos no caminho.

O primeiro obstáculo, que a maioria dos cultivadores do Tao já superou, é a falta de atenção ao presente. Muitas pessoas vivem cada dia olhando para o passado ou preocupando-se com o futuro, sem atentar para o tesouro do presente que já possuem. Nos termos da história, é como se o homem estivesse tão ocupado olhando para cima e para baixo que nunca observasse o fruto suculento próximo a ele.

O segundo obstáculo é mais difícil de superar, e a maioria de nós o encontra de tempos em tempos. Considere um cenário em que o homem vê o morango, mas como está muito preocupado com o tigre acima, e temeroso do tigre abaixo, não tem apetite. Apesar de saber muito bem onde o morango está, não tem interesse em pegá-lo.

Alguém que esteja nessa situação poderá dizer “É muito interessante compreender as metáforas dessa história, mas há uma grande distância entre a compreensão e a prática. Eu posso até concordar que meu objetivo deva ser viver no momento, mas como é que se faz isto?

A história oferece uma sugestão. Quando o homem viu o morango, segurou-se na parreira com apenas uma das mãos, e moveu a outra na direção do morango. Esta ação incorpora dois elementos essenciais: abandonar e explorar.

O homem não poderia pegar o morango se insistisse em se segurar com as duas mãos. Com as duas mãos ocupadas, o máximo que poderia fazer seria ficar olhando o morango. Para conseguir o prêmio, precisou soltar uma das mãos.

A mesma coisa acontece na vida. A parreira representa nossa existência física neste plano material. Segurá-la com força é equivalente a ter forte apego às coisas materiais. Com este apego, não se pode abandonar. Este é um método seguro para evitar que se aproveite o presente.

Isto parece simples quando se fala, mas pense nas pessoa que conhece que estão tão focadas em ganhar e guardar dinheiro que nunca tem tempo para aproveitar a vida. Se observá-los, vai constatar que não conseguem relaxar nem quando exercem outra atividades. Por exemplo, não conseguem parar de pensar no escritório mesmo quando tiram férias. Nos termos da nossa história, essas pessoas estão fortemente agarradas à parreira.

Eu conheço um cidadão cujo apego é pela bolsa de valores. É um day-trader que observa a evolução da bolsa a cada minuto. Quando os amigos falam com ele ao telefone, podem sempre dizer quando os símbolos das suas ações passam pela tela do computador, porque de repente suas respostas se tornam muito mais lentas. É um caso claro onde seu forte apego a preocupações materiais bloqueiam completamente sua capacidade de apreciar uma conversa com velhos amigos – uma das melhores coisas da vida.

O outro elemento, igualmente importante, é expandir-se, explorar. Ficar na zona de conforto é obviamente confortável, mas não oferece nada de novo. Para pegar o morango, é preciso se aventurar além do familiar, para procurar por um prêmio que está a vista, mas ainda não ao alcance da mão.

O Tao se manifesta na vida, e a característica da vida é o crescimento. A vida está sempre explorando novos territórios, correndo riscos e indo a lugares em que nunca esteve. Se fizermos o mesmo, vamos descobrir que a vida é doce, excitante e cheia de possibilidades. Veremos que viver no presente é fácil e divertido.

Nossa história ensina que quando temos dificuldade em viver inteiramente no momento, apenas precisamos nos fazer perguntas como estas:

  • Quais são meus apegos? Quais são algumas coisas que não posso abandonar? Que apegos estou disposto a abandonar para viver a vida ao máximo?
  • Estou aprendendo algo novo? Encontrando outras pessoas? Quais são alguns assuntos interessantes que eu poderia estudar? Quais são alguns projetos interessantes que eu poderia realizar?

Suas respostas a questões desse tipo indicarão o caminho a seguir. Formule seus planos de acordo com elas.

À medida que segue seu plano de ação para viver conscientemente no momento, você achará cada vez mais fácil parar de chafurdar no passado ou se preocupar excessivamente com o futuro. Na medida que apreciar cada vez mais o presente, vai descobrir que lembranças desagradáveis ou mesmo dolorosas não mais o afetam; que preocupações ou mesmo medo das incertezas do futuro não mais o paralisam.

Descobrirá que o presente é literalmente um presente maravilhoso. É uma dádiva milagrosa cheia de paz, satisfação, energia e estímulos. É um caixa cheia de deliciosos morangos.

Você começará a constatar que a única exigência para merecer essa dádiva é que a aceite e a aprecie. Ficará surpreso de que existam pessoas que não a aceitem. Eles não a reconhecem como um direito nato, nem compreendem seu incrível valor.

Você se fecha em seus pensamentos. É tempo de se abrir para seu próprio presente.

fonte do texto:
http://www.taoism.net/br/living/200301br.html

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Complemento – por: Luis Pereira

A história inicia-se com o homem andando por uma selva, viva representação de nossa vida de ignorância e inconsciência, isso me lembra o inicio da Divina Comédia de Dante Aliguieri: “A meio caminho desta vida, achei-me a errar por uma selva escura, longe da boa via, então perdida.”

Achei interessante a inversão do futuro estar abaixo e o o passado acima, pois normalmente pensaríamos o contrário, assim como também temos a interpretação neurolinguística de considerar o passado do lado esquerdo e o futuro do lado direito, devido a nossa escrita ser da esquerda para a direita, ou ainda o passado atrás e o futuro na frente. Esse tipo de interpretação conceitual é fruto de nossa limitação de consciência, por isso achei interessante essa inversão de valores na história, o que nos faz lembrar que o despertar da consciência, a iluminação, o TAO, é algo completamente libertador.

Vejam que maravilhosa interpretação do momento presente: paradoxalmente não existe mas é tudo o que temos! Assim também o budismo insistentemente fala do Vazio, da busca pelo vazio iluminador, e onde está ele ? Pois está aqui e agora. E porque insistimos em buscar fora de nós ou em algum evento futuro mediante uma esperança de que fazendo isso e aquilo vamos nos auto-realizar?!?! Esse é grande mistério que todas as grandes tradições religiosas e filosóficas sempre insistiram em transmitir.

Em um contexto real da situação que está acontecendo ‘comer o morango’ é algo ilógico, por isso que normalmente quando adentramos em uma sangha espiritual, quando começamos a viver uma vida de transformação, é normal que as pessoas de nosso relacionamento, a família, os amigos, as vezes nos taxam de loucos, de fanáticos, de irresponsáveis etc.

Isso ainda nos lembra da “loucura controlada” do Castañeda, da “irreverência” dos contos sufis, dos “koans” do Zen. Então é nosso dever viver esse momento presente, ou seja, comer o morango de forma equilibrada e responsável, seguindo o caminho do meio, cumprindo e demonstrando nossa responsabilidade perante a família, os valores estabelecidos, nossos compromissos de cidadania etc.

O primeiro obstáculo comentado por Derek Lin pode ser observado quando vivemos esperando ‘aquela’ experiência transcendental, ou ‘aquela’ revelação espetacular, que venha nos transformar, ou então vivemos lembrando ‘daquela’ experiencia que tivemos no festejo ou na vivência. Por isso estamos buscando diversificar cada vez mais nossas atividades, mostrando e orientando a todos que não é a ayahuasca que vai nos transformar ou melhorar nossas vidas, e sim nossa capacidade de viver o presente, de viver o Tao, de comer o morango… no máximo a ayahuasca poderá apenas nos ensinar como encontrar os morangos.

O segundo obstáculo também acontece as vezes, quando vemos as pessoas emaranhadas em conflitos, julgando valores, julgando ensinos, julgando os dirigentes, julgando a si mesmos, ciclicamente querendo tomar o controle racional de tudo sem perceber a simplicidadade de viver o dharma. Vivemos sem apetite, apaticos, acabrunhados, esperando que o representante geral libere mais músicas novas, que os dirigentes façam ‘aquela’ instrutiva reveladora, que o ‘outro’ faça algo por nós, que os mestres venham nos salvar. Lembra-me aquele conto de que podemos levar o cavalo até o rio, mas não podemos força-lo a beber, assim também me sinto as vezes quando em alguma vivência ou instrutiva jogo todos dentro do oceano e os vejo emergir gritando por água.

Então sempre insistimos em ensinar: a via do equilíbrio, o caminho do meio, pois é tão ruim o forte apego a vida material esquecendo o espiritual, quanto seria soltar as duas mãos para pegar o morango, indicaria o desequilibro, o fanatismo, e já sabemos o que aconteceria ao se soltar as duas mãos né?

A grande questão agora é então o ‘como’ viver o presente.

Não se esqueçam, o passado já foi vivido, o futuro é um mistério e o agora é uma dádiva, por isto é presente. Existe um ditado chinês que diz que “A oportunidade é uma moça com o cabelo comprido na frente e totalmente careca atrás”. Temos que ficar atentos para aproveitar a chance quando ela está chegando, porque depois que ela passa…

Viver no presente implica ser responsável, sentir e vivenciar os momentos ao máximo. Captar a verdadeira essência da vida. Ver o arco-íris após a chuva, sentir o perfume da natureza, escutar a sinfonia dos pássaros, acompanhar o botão se transformar em uma bela flor. Não deixar mágoas virarem uma bola de neve. Praticar o perdão. Falar eu te amo todos os dias. Gratidão é uma virtude que deve ser praticada todos os dias.

O que mais se escuta é: “Eu não tenho tempo…” Quando vamos encontrar tempo? Pare de se castigar! Consagre 30 minutos por dia à você. Dedicados totalmente à sua pessoa. Leia aquele livro fantástico, aprenda um novo idioma, ouça a sua música predileta, escreva suas aspirações. Tenha a liberdade de escolher, vá atrás de seus sonhos!

Tudo se resume a OBSERVAR o que se está fazendo, no único momento em que a vida realmente acontece – AQUI E AGORA.

Se não viver cada segundo, cada minuto, com eficiência e dedicação em direção a um objetivo previamente determinado, o tempo presente simplesmente se tornará o passado, sem nada ter acrescentado à nossa vida e sem nenhuma relação com o amanhã e perde-se assim o sentido da vida.

O viver “Zen” nos ensina que ao livrarmos de determinados preconceitos e hábitos enraizados, podemos nos concentrar na conquista de novos objetivos, gerando de dentro de nós próprios uma energia ilimitada que nos dá condições para fazer do tempo nosso aliado e alcançar maiores realizações na vida e no trabalho.

 

Atitudes para viver zen !

  • Lembre-se deste provérbio chinês: os mestres podem abrir a porta, mas só você pode entrar.
  • Preste atenção em tudo que fizer e olhe as ações e os comportamentos repetitivos como uma nova oportunidade de perceber a vida com mais cuidado e amor.
  • Viva o momento presente. O passado já se foi e o futuro ainda não existe. O aqui e agora é a única realidade.
  • Comece o dia sentando-se com a coluna ereta, perceba sua respiração, os batimentos de seu coração, suas tensões, seus pensamentos. Fique assim por alguns minutos, depois respire fundo e vá para o mundo disposto a aceitar o dia como ele vier, como se fosse o primeiro de sua vida.
  • Em cada gesto simples do cotidiano, você pode descobrir novos prazeres Saboreie a água e cada alimento como um bem precioso, uma fonte de energia vital. Quando estiver comendo ou cozinhando, não desperdice.
  • Reserve algum tempo e apenas fique sem fazer nada! Não pense, não contemple, não deseje mudanças. Simplesmente seja o que é, aceite seu corpo e seus pensamentos.
  • Lembre-se de olhar para o céu. Isso expande os limites da mente e nos recorda que somos uma pequena parte do imenso Universo, que está sempre em movimento.
  • Ao falar, use palavras de carinho e respeito, pois você está diante de outro ser humano, seja quem for.
  • No trânsito, mantenha-se atento e gentil com os outros motoristas. Peça e dê passagem. Se ficar muito alterado com a espera, tenha no carro um CD de música tranqüila e algumas balas. Isso baixa a ansiedade e suaviza a raiva e a impaciência.
  • No trabalho, quando estiver surgir uma situação de conflito ou receber uma provocação, não reaja imediatamente. Respire e preste atenção, pois sempre há uma maneira de resolver as questões de forma pacífica, com respeito e amorosidade. Caso contrário, você entra na sintonia de ações e pensamentos negativos, ruins para os outros e para você mesmo.
  • Tenha por perto uma caixa de areia com algumas pedras e modifique a posição delas e o traçado nos grãos a cada dia. Mexer no jardim zen é uma forma de aquietar a mente e uma metáfora da vida: tudo está mudando, a todo momento; um dia é diferente do outro e você pode criar o seu presente.
  • Acenda um incenso.Ele marca o tempo de sua meditação ou de qualquer atividade e purifica o ambiente. Além disso, segundo os monges zen-budistas, a fumaça espalha bem-estar para todos os seres e eleva o nosso espírito
  • Tenha um projeto de vida, mas esteja aberto para perceber as indicações do caminho. Seja flexível como os galhos de uma árvore ao vento, assim nada pode quebrá-lo.

Não persiga o passado.
Não se perca no futuro.
O passado já não existe.
O futuro ainda não veio.
Olhando a vida profundamente como ela é
exatamente no aqui e agora,
o praticante vive
em estabilidade e liberdade.

(Theranama Sutra – Buddha)

O que o Buda não ensinou

O que o Buda não ensinou

por: Christopher Titmuss

tradução de: Paulo Stekel
* publicado pela primeira vez <neste site> em 06/01/2008

Os Discursos em Páli (Suttas) são o corpo original de textos das palavras do Buda. O propósito deste artigo é destacar alguns aspectos daquilo que o Buda não ensinou. Os Suttas em Páli mostram que o Buda refutou muitas idéias que hoje lhe atribuímos. Os praticantes do Dharma, aqueles que consideram o Buda como seu professor principal, precisariam verificar o que o Buda disse nos Suttas. Permitam-nos aplicar uma sabedoria perspicaz. Obviamente, há percepções mais profundas que vão além da sabedoria do Buda.

Conforme os textos, o Buda não ensinou:

1 – Abhidhamma. Conforme a Tradição Budista Theravada, o Abhidhamma constitui os ensinamentos de Buda concedidos à sua mãe no paraíso de Tusita. A pesquisa histórica mostra que monges budistas especialistas escreveram o Abhidhamma como um comentário às palavras do Buda. Consistindo de sete livros, o Abhidhamma fornece uma classificação detalhada e analítica da mente e do corpo numa variedade de grupos e elementos. O Abhidhamma foi composto durante um longo período e não é a palavra do Buda, mas só uma interpretação. O Abhidhamma é uma entre um certo número de escolas budistas de interpretação dos Suttas.

2 – Aceitação. Nos 5 mil discursos do Buda não é possível encontrar uma palavra Páli para “aceitação”. Ele aponta mais para uma investigação profunda do que uma aceitação daquilo que não podemos mudar.

3 – Anicca, Dukkha e Anatta são a verdadeira realidade da existência. O Buda nunca fez tal afirmação a respeito da impermanência [anicca], da insatisfatoriedade [dukkha] e do não-eu [anatta]. Ele disse que estas são três características da existência. Se fossem a verdadeira realidade, não haveria alívio nem liberação. O Incondicionado é anatta [não-eu], mas não anicca ou dukkha.

4 – Crença em Deus. O Buda considera a crença no Deus Criador do monoteísmo como só mais uma das diversas espécies de crença religiosa. Ele a rejeitou, bem como a várias outras crenças religiosas. No Judaísmo, Cristianismo e Islamismo isso é considerado como a única crença religiosa. Na antiga Índia, o Deus criador era chamado Brahma. No entanto, o Buda apontou o caminho para permanecer com Brahma (Brahma Viharas). É importante entender que o Deus Criador da Índia antiga não pode ser comparado ao Deus Criador Ocidental, que é absoluto e todo-poderoso. Brahma é um Deus entre os Deuses. A profunda e liberadora força de amor, compaixão, grata alegria e equanimidade revela uma permanência com Brahma, uma força criativa. O Buda nunca hesitou em seu foco na liberação completa, ao invés de uma experiência de união com Brahma.

5 – Estar no aqui e agora. O Buda não deu ensinamentos do tipo “estar aqui e agora”. Os especialistas budistas traduziram muito livremente “ditthe dhamme” como “aqui e agora”. “Ditthe” significa “visão” e “dhamme” refere-se ao Dharma, isto é, a todos os objetos (na mente e no mundo, passado, presente ou futuro), aos ensinamentos e à verdade. O Buda não reconheceu qualquer tipo de entidade egóica [self entity] nem adotou uma idéia de substância para o momento presente. “Ditthe dhamma” pode ainda significar “o ato de ver com atenção cuidadosa o Dharma”.

6 – Crença em Deus, um salvador, um livro sagrado, profeta ou guru. A linguagem de “Deus” é a linguagem do “Eu”. Afinal de contas, a crença em Deus e no Eu são os dois lados da mesma moeda, a primeira crença reconfirmando a segunda. Um “Deus Absoluto” não é uma grande questão nos Suttas porque ela não foi um ensinamento influente quando o Buda destacou o ver claramente, o amor desapegado (metta) e a compreensão da natureza da originação dependente. Ele não se opôs à linguagem de “Deus” (Brahma), como usada na Índia. Ele considerou a noção de Deus inteiramente dependente dos sentimentos, percepções e crenças. Não referiu-se a si mesmo como um profeta, guru, deidade ou avatar (encarnação de Deus). Não referiu-se a si mesmo como um mortal comum. Ele disse: Eu estou desperto. O Buda não apontou um sucessor antes de morrer. Ele ordenou que sua Sangha confia-se no Dharma.

7 – Causa. O Buda observou estritamente a originação dependente. Ele não adota uma causa e efeito simplista, de A para B, pensando algo como “esta técnica de meditação conduz diretamente à liberação”. O Buda referiu-se à causa (Páli, hetu) como uma condição distintiva (paccaya). Ele tendeu a colocar as duas questões juntas. Qual é a causa? Qual é a condição? (ko hetu ko paccayo) Numerosas causas ou condições para numerosos efeitos são mencionados nos Suttas. O Buda não aplica qualquer espécie de modelo simplista – “isto exclusivamente causará aquilo” – para o despertar. Ele se refere a um caminho direto (eke-yana) para o despertar.

8 – Escolha. A idéia de que somos sempre livres para fazer uma escolha não está de acordo com a experiência. Não escolhemos nascer, parar de envelhecer, de ficar doentes ou de sofrer dor. Não podemos escolher viver para sempre. Não podemos escolher ser felizes em cada momento do dia. Não podemos escolher os resultados dos eventos que realizamos em nossas vidas. Poderíamos pensar que fazemos escolhas livres e independentes somente para constatar mais tarde que a suposta livre escolha que fizemos acabou se tornando um pesadelo. Nossas supostas escolhas são limitadas. Fazemos escolhas sem conhecer as incontáveis condições que influenciam tais escolhas, ou do passado, presente, ou que poderiam surgir no futuro. Somos herdeiros de nosso karma e amarrados a nosso karma. Isso é uma escolha? É aconselhável usar a linguagem de “escolha”? É a noção da escolha do consumidor deixando-nos iludidos e aprisionados como fregueses? O Buda enfatizou mais a intenção afetando corpo, fala e mente. Na clareza, naturalmente cultivamos ética, samadhi [N.T. “êxtase” – o autor o define como “poder de concentração”] e sabedoria. É uma prioridade natural. A Sabedoria diz que neste caso não se sente haver qualquer escolha. É simplesmente algo conduzente a um modo de vida liberado. Num sentido profundo, realmente não há uma escolha.

9 – Determinismo e fatalismo. O passado certamente pode determinar o processo de originação dependente. O fato de que o passado pode determinar o presente não significa que somos prisioneiros, porque o passado não é um agente que, afinal de contas, possa aprisionar-nos. Isto também significa que não há eventos que simplesmente ocorram sem causas e condições. O Buda também não ensina o fatalismo. Se o passado de modo absoluto determinasse nossa vida, então os ensinamentos das Quatro Nobres Verdades seriam irrelevantes. Seríamos um total prisioneiro de nosso passado. Novamente, não haveria liberação do passado, das forças não-resolvidas do karma. O Buda ensina a originação dependente e a liberação.

10 – Iluminação. A palavra “iluminação” não aparece em lugar algum dos textos budistas. Iluminação é um conceito Ocidental relacionado à era moderna no Ocidente, onde a ciência e a razão gradualmente substituíram o Deus que distribuía punições e recompensas pelas crenças e conduta humana. A palavra bodhi significa “despertar”. Ela vem da raiz budh – “acordar”. Soa arrogante dizer “eu estou iluminado”. Isso soa como crença em um “Eu” que diz “eu estou iluminado”, já que implica em um Eu chegando à Luz e que podemos apreciar aqueles que despertaram. Em Sete Fatores da “Iluminação” a palavra Páli é bojjhanga – bodhi, despertar e anga, aspectos de ou membros de. Uma década atrás eu escrevi um livro chamado Light on Enlightenment [Luz sobre a Iluminação]. Anos depois, um especialista Páli me fez a distinção entre despertar e iluminação. Vivendo e aprendendo!

11 – Fé. No sentido Ocidental, fé é freqüentemente associada com fé religiosa, como a de que há vida após a morte ou ter fé em um livro sagrado, um profeta ou Deus. Não há palavra equivalente nos ensinamentos do Buda. Saddha, a palavra Páli traduzida como fé, ou às vezes confiança ou crença, significa sad – coração, dha – pôr ou colocar. Quando nosso coração se dirige à ação, como para explorar os ensinamentos, então saddha surge enraizada na direção do maior aprofundamento.

12 – Livre-arbítrio. Para a vontade ser livre, teria que ser independente, suportada pelo Eu e não condicionada por circunstâncias interiores e exteriores. O Buda não ensina o livre-arbítrio. O Buda ensinou o caminho do meio entre livre-arbítrio e determinismo. O Eu está ligado à noção de livre-arbítrio e igualmente ligado à noção de determinismo. Verdadeiramente, conhecer e perceber a originação dependente é liberar-se. Isso revela o vazio de um Eu real e das coisas reais.

13 – Escape. Os textos falam do escape do sofrimento. A palavra Páli nissarana significa saída. Nós geralmente associamos escape com evasão, com o medo que nos obriga a fugir de nós mesmos, da responsabilidade. Precisamos lembrar o suporte que o Buda deu-nos para encontrar a saída. Gautama, o futuro Buda, fugiu de suas responsabilidades como um príncipe, um marido e um pai. Após seu despertar, seis anos depois, ele pensou a respeito da gratificação da busca de prazer, o perigo nisso e a saída disso.

14 – Extinção do desejo. A palavra khaya geralmente traduzida como extinção, destruição ou dissolução, significa o “esgotamento” do desejo. No esgotamento do desejo, podemos envolver-nos em atenção sábia e ação sábia não corrompida com as preocupações do Eu e com aquilo que ele persegue.

15 – Cinco Preceitos. É extraordinariamente difícil encontrar o conjunto de Cinco Preceitos nos ensinamentos do Buda. Esta lista dos cinco aparece em uma única ocasião em um texto obscuro em todos os Suttas. O Buda nunca limitou sila (ética) a cinco preceitos. Ele falou muito mais extensamente sobre ética, sobre moralidade, do que tem feito a tradição budista. Ele falou a monges e monjas sobre a importância do controle dos sentidos, da purificação do meio de vida e do habilidoso uso de comida, vestimenta, abrigo e medicina como características igualmente importantes de sila. Foi conveniente para o rico que a tradição budista ignorasse o Buda e confinasse a ética aos cinco preceitos. O rico poderia buscar a gratificação sensual e privilégios incontidos assim que a tradição em grande parte excluiu-os como uma questão moral. O Buda ainda lista 10 caminhos de ação inábil e ação hábil, 3 de corpo, 4 de fala, 3 de mente (os 4 primeiros sendo a base dos 4 primeiros preceitos). MN 41, Saleyyaka Sutta.

16 – Interconexão. Isto implica que cada “coisa” está conectada a cada outra “coisa”. É uma idéia baseada na noção de que há alguma “coisa” no primeiro lugar. É o carro o motor? Não. Então, tire o motor. É o carro as rodas? Não. Então, tire as rodas. É o carro qualquer outra parte? Não. Então, jogue fora o resto das partes. O que restou do carro a ser conectado? Nada daquele “eu”. Há a convenção de que existe um carro. Muitas mulheres juntaram-se ao Buda no modo de vida renunciado da exploração do Dharma. Uma destas mulheres, chamada Vajira, experimentou pensamentos perturbadores na meditação.

Por quem este homem foi criado?
Onde está o Artífice do ser?
De onde o ser humano se originou?
Onde o ser humano cessa?
Então isto veio à sua mente.
Quem se dedicou a esta questão? Um ser humano ou um ser não-humano?
Ah, isso vem da tentação (Mara) para despertar medo e apreensão? Ela compreendeu.
A verdade despertou nela. Ela respondeu:
Exatamente como numa união de partes a palavra carruagem é usada.
Então, quando os agregados existem,
Há a convenção de um ser humano.
Então, foi dito ao final do discurso pela voz para despertar medo.
Vajira reconheceu-me e então a voz desapareceu dali completamente. SN. 1. pag. 230.

17 – A vida é sofrimento. Está é uma declaração incorreta da primeira nobre verdade. Novamente, não há tal declaração do Buda. Se isso fosse realidade, então não haveria escapatória. Quando o sofrimento surge na vida, é devido às condições. Quando as condições para o sofrimento não estão presentes, então o sofrimento não surge.

18 – Mantras. Os Mantras são geralmente uma prática devocional para um Eu Supremo, para um Deus ou que se utiliza da pura repetição de uma palavra para condicionar a mente a reduzir o estresse ou o pensamento excessivo. O Buda ensinou a experiência direta com a respiração, o corpo, os sentimentos, os estados da mente e o dharma ao invés de qualquer mantra como a prioridade da atenção. Mantras podem, entretanto, ser uma meditação útil para acalmar a mente.

19 – Metta é bondade amorosa. Muitos tradutores Páli definiram metta como bondade amorosa. O Pali-English Dictionary, da muito respeitada Pali Text Society, na Grã-Bretanha, usa a palavra “amor” para metta. Percepções da bondade dos monges budistas podem ter influenciado a moderna tradução de metta. O dicionário diz que metta deriva de mid – amar. Bondade amorosa é uma tradução inadequada. Metta expressa amor incondicional, amizade profunda e bondade ilimitada, aberta e sem amarras. O Buda falou a Anuruddha de liberação através do amor (metta ceto-vimutti) e novamente em Itivuttaka 27.19-21. Ananda também incentivou meditar nas características de metta para se atingir a liberação.

20 – Método e técnica para desenvolver Metta. No Metta Sutta, o Buda simplesmente revelou as qualidades, atitude e estado de ser de alguém profundamente fixado em metta. Amor sem limites é a marca de uma pessoa verdadeiramente realizada. O Buda apenas ensinou a direção de metta em todas as direções assim que se esteja desapegado. Metta, que é amor, é uma força transformadora e divina que compartilha características similares à liberação. Ambas, liberação e amor, não conhecem limites. Os métodos e técnicas modernas para desenvolver metta têm muito pouca relação com a realização de metta como uma imersão permanente. Apesar disso, a aplicação de métodos e técnicas para desenvolver metta pode ser muito proveitosa. Em seu livro clássico da tradição Theravada do século V, o Visuddhimagga (o Caminho de Purificação), o Venerável Acharya Buddhaghosa aproveitou algumas das afirmações do Buda e usou-as como frases para desenvolver metta. Ex.: “Possam todos os seres estar livres da inimizade. Possam eles viver venturosamente.”

21 – Atenção plena é o elo mais importante no Caminho Óctuplo. O Buda nunca isolou um elo acima dos outros. No Discurso sobre as Quatro Aplicações de Atenção Plena, ele disse que “atenção plena é cultivada até o ponto necessário para o conhecimento, a fim de se permanecer livre e independentemente no mundo”. Não há qualquer instrução nos ensinamentos do Buda para se estar “cônscio em cada momento”. Ele não poderia corresponder a tamanho ideal. Nem ninguém poderia. É um empreendimento impossível. O Buda não foi sempre cioso das conseqüências de suas decisões e mudaria sua mente depois. Tomar um dos aspectos do caminho e elevá-lo acima dos demais abandona a originação dependente. Isso daria caráter de Eu à atenção plena. No MLD 117, o Buda declarou que visão correta, esforço correto e plena atenção correta sustentam uma à outra enquanto fornecem uma explicação abrangente da sustentação mútua e dos significados de cada elo no Nobre Caminho Óctuplo.

22 – Prática momento a momento. O Buda não adota esse tipo de idéia. Ele defende a aplicação da plena atenção ao corpo, sensações, estado da mente e dharma. É um meio de realizar uma liberação eterna. Ele não ensina o concentrar-se na plena atenção para seu próprio benefício. Ele não admite qualquer tipo de egoidade à plena atenção. Não há palavras para “momento a momento” em qualquer dos Suttas. Desenvolvemos plena atenção juntamente com seis outros membros para atingir o despertar, a saber, investigação, energia, alegria profunda, tranqüilidade, concentração meditativa e equanimidade, para chegar à verdadeira sabedoria da liberação. (MLD 118).

23 – Conhecer e perceber as coisas como elas são. Não proferido pelo Buda. Uma má tradução comum de yathabhutam-ñana-dassana. Esta célebre declaração do Buda significa literalmente “conhecer e perceber conforme o que vem a ser”. Bhuta vem da raiz bhu, vir-a-ser. Isso se refere à ação de conhecer e perceber. Não há menção de coisas nesta afirmação. Esta tradução correta é uma aproximação mais dinâmica e desafiadora do que a má tradução que sugere uma idéia fixa. “O que vem a ser” se refere à originação dependente.

24 – Nenhum Eu. O Buda permaneceu em nobre silêncio quando perguntado se havia um eu ou nenhum eu. Ele simplesmente declarou que corpo, sentimentos, percepções, formações mentais, incluindo os pensamentos, e a consciência não eram alguém e não pertenciam ao eu. Ele não ensinou o eu como sendo um veículo para a liberação da falsa percepção. Anatta literalmente significa “não-eu”; se o Buda tivesse dito “nenhum eu”, ele teria falado na-atta.

25 – A Unidade é a realidade fundamental. O Buda não negou a importância da Unidade. Ele se refere a ela na experiência de Brahma Viharas (Permanência Divina ou Presença de Deus). Ele não se refere a esta Permanência como realidade fundamental, uma vez que isso traz a noção de um Eu que se une a outro. O Buda refuta que O Todo é Um e igualmente refuta que O Todo é Muitos e aponta para a originação dependente. Em MLD 117, o Buda disse: a Unificação da mente, equipada com os outros sete elos do Caminho Óctuplo, é chamada nobre concentração correta com seus suportes e requisitos.

26 – Abrir-se ao desejo. O desejo (tanha), tanto quanto a ânsia e a sede que se seguem, conduz à insatisfatoriedade e ao sofrimento. O Buda nunca endossou uma idéia como a de se abrir ao desejo. O desejo resulta do contato, da identificação com sensações particulares que condicionam o desejo e alimentam o apego. A idéia de que podemos obter aquilo que desejamos sem vínculo com os resultados compromete os ensinamentos do Buda sobre a insatisfatioriedade do desejo. Abrir-se ao desejo emite uma mensagem aos consumidores budistas para que estejam abertos a seus desejos desde que, por meio deles, sigam sem ânsia. A paz temporária da mente que experimentamos quando somos bem-sucedidos em conseguir o que queremos é devida à suspensão temporária do desejo em nossa mente. Abrir-se ao desejo dilui os ensinamentos do Buda para adequá-los à ideologia Ocidental de ir atrás do que queremos. É uma visão comum no Budismo Americano contemporâneo, onde geralmente a jangada que vai para a outra margem tem se tornado a partida de um transatlântico. O Buda usa outras palavras para “desejo”, como dhamma-canda, zelo pelo dharma, quando referindo-se à intenção, práticas e ações necessárias para o despertar e a liberação.

27 – A Paixão (raga) deve ser erradicada. O Buda incentivou a paixão como Dhamma rage (Paixão pelo Dharma). Não devemos confundir raga com desejo. Ele referiu-se a abandonar qualquer raga que dá cor e distorce os objetos. A palavra raga significa dar cor ou tingir.

28 – Paramitas (Perfeições). O Buda não ensina as 10 Perfeições. Elas não são encontradas em nenhum lugar dos Suttas. Ele refutou a crença de que podemos alcançar uma perfeição da mente, não importa o quanto cultivemos dana (generosidade), ética, renúncia, sabedoria, energia, paciência, honradez, decisão, metta (amor, bondade amorosa) e equanimidade. As 10 Perfeições são encontradas nos comentários do Theravada e Seis Perfeições são encontradas na tradição Tibetana. O Buda ensinou a liberação a partir da noção de perfeição e imperfeição.

29 – Salvação pessoal. Salvação pessoal importa para aqueles que acreditam em um Eu que deva ser salvo.

30 – Renascimento. Não há nenhuma palavra nos ensinamentos do Buda que se traduza literalmente como renascimento. Esta noção parece vir da palavra Páli punnabbhava, que literalmente significa “novo vir-a-ser” [rebecoming]. No Kalama Sutta, um dos mais queridos de todos os discursos sobre a investigação, o Buda presume uma idéia provisória sobre o “novo vir-a-ser” ao invés de referir-se a isso como um fato indubitável. Há o “novo vir-a-ser” devido a estar-se amarrado à força do desejo.

31 – Reencarnação.
O Buda refutou a crença numa alma, Eu [self] ou essência que vai de uma vida à outra. Nossa meditação não pode mostrar algo interno permanente a deixar o corpo ao chegar a morte.

32 – Visão correta. A palavra Páli para “correto”, no caso de “visão correta”, “intenção correta” e nos seis elos restantes no Nobre Caminho Óctuplo, é Samma. Samma significa “conduzente” – conduzente ao completo despertar. Uma visão conduzente revela uma profundidade de compreensão do que é a liberação. Samma não tem qualquer implicação de um mandamento moral, de certo ou errado. Miccha Magga significa um Caminho Não-conduzente que se segue na vida.

33 – Samatha (tranqüilidade) e vipassana (discernimento) são práticas separadas uma da outra.
O Buda nunca refere-se em nenhum lugar a samatha e vipassana como técnicas. Se fossem, seriam opostas uma à outra. Ele ensinou samatha-vipassana como qualidades de experiência e percepções essenciais para a compreensão do Dharma. Ele disse que algumas pessoas são desenvolvidas em ambas, tranqüilidade e discernimento; algumas são desenvolvidas em tranqüilidade; algumas são desenvolvidas em discernimento e algumas permanecem não-desenvolvidas em ambas. O Buda nunca disse que samatha (a consciência plena da respiração) é uma técnica e que Vipassana ou meditação do discernimento (consciência do corpo ou pensamentos que surgem) é outra técnica. Diferentes tradições budistas separaram uma da outra.

34 – A visão da impermanência é tudo o que importa. O Buda nunca tomou a exploração da impermanência isoladamente do resto do corpo de seus ensinamentos. Quanto à impermanência, incentivou uma perspectiva quíntupla – vemos a originação, o desvanecimento (de eventos, fenômenos, experiências, relacionamentos, etc), a satisfação, o risco e o caminho para fora do mundo da impermanência. A experiência de impermanência (anicca – literalmente “não-permanente”) está disponível como um passo em direção ao desapego.

35 – Partícula subatômica (kalapas). O Buda não ensinou o desenvolvimento do poder de concentração (samadhi) na meditação a fim de experimentar partículas subatômicas. A palavra kalapas não aparece em nenhum lugar dos suttas. O Buda não sustentou tais coisas, como visões materialistas ou não-materialistas.

36 – A Verdade está dentro de você. Nunca declarado pelo Buda. Ele disse que preservamos a verdade quando não fazemos reinvindicações de a possuirmos. A verdade não está dentro, nem dentro de outro, nem no meio. Nós não podemos encontrar uma coisa chamada Verdade interior. A verdade é aquilo que nos desperta (bodhi-sacca), a verdade da sabedoria (sacca-ñana). Não é uma entidade substancial que alguns têm e outros não têm.

37 – Vipassana como uma técnica. Não há nada nos ensinamentos do Buda indicando que Vipassana seja uma técnica. A palavra simplesmente significa “discernimento” [insight]. Um momento de discernimento é um momento de vipassana que pode surgir em qualquer lugar a qualquer momento. A tranqüilidade sustenta o discernimento e o discernimento sustenta a tranqüilidade. Calma e discernimento indicam liberação.

38 – Eu Real. Diversos professores budistas mais graduados inevitavelmente usam em suas conferências e escritos o conceito de Eu Real. Não há nada que valide um Eu Real. Quem ou o que internamente determina o que é esse meu Eu Real e o que não é esse meu Eu Real?

39 – Dieta vegetariana. O Buda estava mais interessado no que saía de nossas bocas, do que naquilo que entrava nelas. Ele não se opôs que os buscadores renunciados recebessem carne para comer, desde que animais não fossem mortos por eles. (MLD 55). Na Índia vegetariana todos os dias andarilhos, iogues, sadhus e ascetas muito, muito raramente tocam carne. Os hindus tratam as vacas na Índia com reverência sagrada por seu modo tranqüilo e seus laticínios. É improvável que os hindus oferecessem à Sangha desabrigada do Buda qualquer coisa com aspecto de carne – isto é, animais, aves ou peixe. O Buda necessitaria revisar radicalmente sua visão hoje a respeito da ingestão de carne. Há crueldade para com os animais em nossos grandes matadouros. Animais são abastecidos com uma dieta prejudicial. Vacas, ovelhas, porcos e aves consomem uma enorme quantidade de comida, quer confinados em fábricas animais, quer ocupando terras valiosas que poderiam fornecer grãos, frutas e vegetais. Milhões de budistas entoam para salvar todos os seres sencientes e dispensar bondade amorosa aos animais, aves e peixes, mas continuam a comê-los, geralmente no dia-a-dia.

40 – Meditações com visualização. O Buda forneceu práticas diretas para vermos e conhecermos por nossas próprias experiências o que vem a ser, ao invés de aplicar sobre a experiência visual figuras, imagens ou arquétipos mentais. Do mesmo modo que com os métodos para metta, o uso de práticas com mantras, visualização, podem, contudo, ser uma forma muito benéfica de meditação.

41 – Nós criamos nossa própria realidade. O Buda nunca fez essa declaração. Você vê essa frase atribuída ao Buda em posters e calendários. É uma idéia bizarra. Pode a mente criar o céu, a terra, a natureza e incontáveis seres sencientes? A crença de que criamos nossa própria realidade é uma projeção primitiva. Não podemos criar nem mesmo nosso próprio sofrimento. A noção de “eu” e “meu” simplesmente surge com condições que têm um suporte. As condições da originação dependente dão forma à realidade. A mente não pode criá-la. O Eu substituiu Deus, o Criador, pelo Eu, o Criador. É outra projeção. Isso vem da má tradução do primeiro verso do Dhammapada. O buda disse que “todos os dharmas são fabricados pela mente”. Isso significa que a mente constrói o Eu pelo que é percebido. A mente concede substância, essência, alma ou egoidade àquilo que é originação dependente.

42 – Atenção sábia. Uma tradução simples. As palavras Páli são yoniso-manasikara. Yoni é o útero da mãe. Manas é mente. Kara é ação. É a ação da mente que emerge da profundeza de nosso ser. Yoni é usada metaforicamente. Manas é mente. Kara é ação. Yoniso-manasikara indica o estabelecimento da mente.

Sobre o autor: Christopher Titmuss, escritor e monge budista na Tailândia e Índia, ensina Meditação do Despertar e do Discernimento no mundo todo. Vive em Totnes, Devon, Inglaterra. Ele é o fundador e diretor do Dharma Facilitators Programme [Programa de Facilitadores do Dharma] e do programa Living Dharma [Dharma Vivo], um programa de aconselhamento online para praticantes do Dharma. Ele organiza retiros, participa de peregrinações (yatras) e conduz assembléias sobre o Dharma. Christopher tem ensinado em retiros anuais em Bodh Gaya, Índia, desde 1975, e conduz uma reunião anual sobre o Dharma em Sarnath desde 1999. Um instrutor do Dharma graduado no Ocidente, é autor de vários livros, como Light on Enlightenment [Luz na Iluminação], An Awakened Life [Uma Vida Desperta] e Transforming Our Terror [Transformando Nosso Terror]. Um batalhador pela paz e outras questões globais, Christopher é um membro do conselho consultivo internacional da Buddhist Peace Fellowship [Comunidade Budista da Paz]. Poeta e escritor, é co-fundador da Gaia House [Casa Gaia], um centro internacional de retiro em Devon, Inglaterra.

Prática de Proteção pela Cruz Azul

Prática de Proteção pela Cruz Azul

(Invocação Inicial – apenas uma vez)

Amada, Poderosa e Triunfante Presença de Deus EU SOU em mim, ó chama imortal autogerada do Amor Crístico no meu Coração, Santo Cristo Pessoal de todos os portadores de Luz do mundo, amado Grande Diretor Divino, amado Saint Germain, amado Jesus, o Cristo, amado Hélios, amado Deus Obediência, amado El Morya, amado Serapis Bey, amada Deusa da Liberdade, amado Senhor Lanto, amado e poderoso Vitória, amado Cyclopea, amado Senhor Maitreya, amado Lanello, todo o Espírito da Grande Fraternidade Branca e a Grande Mãe do Mundo, vida elemental dos reinos do fogo, do ar, da água e da terra!

Em nome e pelo poder da Presença de Deus que EU SOU e pelo poder magnético do fogo sagrado que me foi confiado, invoco a poderosa Presença e poder da Cruz de Chama Azul dos Mestres Ascensos, como um escudo invencível de substância de Luz Cósmica que atuará como um poderoso pilar de proteção de chamas azuis manifestando-se em toda a minha consciência, no meu ser e no meu mundo durante as vinte e quatro horas do dia!

Ó Amada Presença do EU SOU no coração de toda a Vida, enquanto recito nove vezes o seguinte decreto para cumprir o Poder Cósmico do três-vezes-três, faço o sinal da cruz e visualizo a sua realidade resplandecente em manifestação à minha frente, atrás de mim, à minha esquerda, à minha direita, abaixo de mim, acima de mim e no centro da minha forma, assinalando o foco individualizado da Poderosa Presença do EU SOU do próprio Deus, que desce como uma poderosa corrente de energia luminosa incumbida de fazer a Sua Vontade Sagrada, como manifestação de Deus neste mundo da forma!

(Decreto – repetir 9 vezes)

Amada e Poderosa Presença do EU SOU,
Em nome da Justiça e Misericórdia Divinas, +
Em nome do Cristo, +
Em nome da Luz de Deus que nunca falha, +
Digo a toda influência negativa e a toda força negra em mim e fora de mim:
Digo a todo o mal e a toda injustiça que me queira prejudicar.
Digo a toda sombra tenebrosa que me queira ferir.
Não tendes poder algum!
Acabaram-se os teus dias!
Sede dissolvidos e consumidos do corpo da terra para sempre!
EU SOU, EU SOU, EU SOU
Por toda Luz e Amor de Deus,
EU sei que SOU
A Vitória Cósmica e o Poder da Luz
Por toda parte eternamente!

(Finalização – apenas uma vez)

E com toda a fé eu aceito conscientemente que isto se manifeste, que se manifeste, que se manifeste! (3x)
Aqui e agora, com pleno poder, eternamente mantido, omnipotentemente ativo, em contínua expansão e abrangendo o mundo inteiro até que todos tenham ascendido totalmente na luz e sejam livres! Amado EU SOU! Amado EU SOU! Amado EU SOU!

Observações:

1. Esta prática deve ser realizada de pé. Segure o papel para ler com a mão esquerda, posteriormente deverá memorizar pois é mais efetiva.

2. Faça primeiro a Invocação Inicial. O decreto central deverá ser repetido 9 vezes e a cada vez deve-se fazer o sinal da cruz três vezes, sendo uma vez em cada frase onde aparece indicado com a pequena cruz azul.

3. Para fazer o sinal da cruz use os dedos polegar/indicador/médio, mantendo os dedos anular e mínimo dobrados junto a palma da mão. As direções em ordem são: à sua frente, atrás, à esquerda, à direita, abaixo, acima e sobre o centro do coração, completando assim 7 vezes. Na oitava recitação concentre-se e imagine que todas as 7 cruzes realizadas se intensificam, se iluminam, começando a vibrar. Na nona e ultima recitação continue imaginando as cruzes azuis vibrando em altíssima freqüência, aumentando de tamanho e unindo-se em um poderoso escudo de luzes e raios azuis que ficará cristalizado em sua aura astral para sua constante proteção física e espiritual.

4. Tanto as invocações iniciais e finais e o decreto central deverá ser realizado verbalizados, nunca de forma mental. Caso esteja realizando em grupo deverão vocalizar de forma sempre sincronizada, todos a uma só voz. Na finalização deve-se repetir a frase inicial 3 vezes conforme indicado por (3x), continuando em seguida até o final da finalização.

5. Esta prática pode e deve ser realizada todos os dias, criando assim uma poderosa proteção individual.

O que é xamanismo?

O que é xamanismo?

por: Léo Artese

O xamanismo é a mais antiga prática espiritual, médica e filosófica da humanidade. Hoje médicos, advogados, donas de casa, psicólogos, espiritualistas, místicos, estudantes, executivos, e pessoas das mais variadas crenças estão estudando e aplicando o xamanismo.

Os rápidos resultados, introvisões de profundo significado, o contato com realidades ocultas, a obtenção de auto-conhecimento, a busca do poder pessoal, contribuem para o interêsse nas práticas. O xamanismo é um conjunto de crenças ancestrais. Sua prática estabelece contato com outros planos de consciência, a fim de obter conhecimento, poder, equilíbrio, saúde. Propicia tranquilidade, paz, profunda concentração, estimula o bem estar físico, psicológico e espiritual.

O xamã pode ser homem ou mulher. É o mago, o curandeiro, o bruxo, o médico, o terapeuta, o conselheiro, o contador de estórias, o lider espiritual, etc.

Ele é o explorador da consciência humana. O praticante é levado a sair do torpor convencional, reconhecendo os seus limites, a sua limitada visão pessoal do mundo, buscando um plano mais universal.

Através de um chamado interior ele vive um confronto existencial que o força a sair de uma zona de conforto, do falso brilho, da alienação.

Reforçando a coragem e a determinação, o praticante mobilizado por visões, introvisões e vivências, expande a sua consciência, podendo processar transformações de profundas proporções na sua vida. O xamanismo resgata a relação sagrada do homem com o planeta.

Praticar xamanismo é ir em busca da excelência espiritual, é enxergar a realidade existente por trás dos conceitos, é se harmonizar com as marés naturais da vida. É trilhar o Caminho Sagrado, atravessando os portais da mente, das emoções, do corpo e do espírito.

A premissa básica é o reconhecimento que todos fazemos parte da Família Universal e tudo está interligado.

O praticante compreende o “Espírito Essencial” que está dentro dele mesmo, na natureza e em todos os seres. Ele sabe quem ele é , e como se relaciona com o Universo.

O reconhecimento do caminho da verdade vem da expansão da consciência e a compreensão que o verdadeiro poder está dentro de cada praticante, e provém do desenvolvimento de seus próprios dons.

Hoje, no Planeta, a vibração está mais alta do que nunca. As pessoas se preocupam cada vez mais com o autoconhecimento e fazem a sí mesmo uma pergunta : “O que eu realmente devo fazer na vida?”Nesta busca deparam-se com barreiras, seja com relacionamentos, trabalho, saúde, carreira e etc.

O maior obstáculo para o crescimento é a inércia, que cria a insensibilidade, pois priva o indivíduo de novas possibilidades, cria passividade com relação à vida. Cria falta de vitalidade, limita a criatividade e predispõe ao papel de vítima. A consciência se limita a fugir, a ter medo. A vítima fica sempre vivendo as sombras do passado e com medo do futuro.

As práticas xamânicas compelem a mente a viver dentro do coração, até que a mente ignorante seja destruída. Isso se manifesta quando o ser se revela espontaneamente. Na verdade, o antigo modo de viver acaba, abrindo caminho para um jeito mais consciente.

Quando se aproxima o verdadeiro propósito da alma, tudo da natureza interior vem a tona. A pessoa entra em um processo mais rápido de transformação pessoal. Quando convidamos o amor para despertar poderes mais profundos, trabalhar nos desafios torna-se uma aventura.

O praticante explora a estrutura de sua própria consciência e vai compreendendo como os fatos acontecem na sua vida, deixando de ser vítima das circunstâncias. Sente-se inspirado pelos desafios e aprende a utilizar a energia de forma a caminhar no Amor – Paz e Luz.

Praticando a sabedoria das antigas tradições adaptadas ao mundo atual e ao estado atual da alma humana, o trabalho é feito com tambores, canções, meditações, instrumentos de poder, danças, respirações, visualizações, histórias, vivências e muito, muito amor.

fonte:
www.xamanismo.com.br

As quatro nobres verdades

As quatro nobres verdades

pelo Prof. de Dharma Rodney Downey (do Zen coreano)
Tradução: Ricardo Sasaki & Rosana Lucas
Editor da palestra oral: Ricardo Sasaki

Gostaria de começar falando sobre alguns enganos que temos a respeito do Dharma do Buddha, os quais são muito comuns em todo o mundo ocidental, e mesmo no Oriente. A causa desses enganos tem a ver com palavras e com aquilo que elas significam.

Hoje, no café da manhã, eu comi bolo. E ontem eu aprendi que existe uma expressão em português: Quando você vai se encontrar com uma pessoa e ela não comparece, diz-se que você “ganhou um bolo”. Imaginem que daqui a 500 anos, um arqueólogo encontre um diário de anotações de um brasileiro. Lá é dito: “Eu fui encontrar com Paulo e ganhei um bolo”. O tradutor diria que eles comeram um bolo juntos! Esta é a armadilha das palavras, as quais têm um significado para uma época e cultura em particular. O mesmo se dá com alguns dos ensinamentos do Buddha.

Consideremos as Quatro Nobres Verdades, as quais estão no centro do ensinamento do Buddha. A tradução usual das Quatro Nobres Verdades é: “A vida é sofrimento; a causa do sofrimento é o desejo; a cessação do sofrimento é se ver livre do desejo; o modo de fazê-lo é o Caminho Óctuplo”.

Isto está correto? De modo algum! Isto não é o que o Buddha falou. Este é o problema! Vamos começar com a Primeira Nobre Verdade, que é sempre traduzida como “A vida é sofrimento”. Mas que coisa horrível! Veja a vida! É uma força excitante e de grande diversidade, de inacreditável deleite. Por que, então, é traduzido como a vida é sofrimento?

Vamos examinar a língua em que o Buddha falava. O Buddha disse, de fato, que a vida é dukkha. Esta palavra sempre é traduzida como sofrimento, mas isso não é de modo algum o que significa. A raiz de dukkha é duk, e significa “eixo”. Veja a época do Buddha: A forma mais complexa de transporte era uma carroça; era uma carroça de madeira, como é na Índia ainda hoje, com um eixo de madeira unindo duas rodas também de madeira, e puxada por búfalos.

A palavra dukkha significava o eixo que está fora do prumo, que está fora de alinhamento. Imaginem o sofrimento de uma pessoa sentada nessa carroça, a força que os búfalos devem fazer e, ao invés da carroça seguir suavemente, ela está fora do eixo, desalinhada.

Então, Buddha fala sobre a vida – a vida de todos nós – usando o exemplo da carroça que tem seu eixo fora de alinhamento. Ele diz que nossas vidas estão fora de equilíbrio. E é esse desequilíbrio que leva ao sofrimento. Ele nunca disse que a vida é sofrimento. Este é um ponto muito importante. Nossas vidas estão fora de equilíbrio, ou, como os chineses falariam, não está fluindo junto com o Tao. Ambas as expressões significam a mesma coisa. Esta é a Primeira Nobre Verdade.

A Segunda Nobre Verdade se refere à razão da vida ser assim, e isso é geralmente traduzido como desejo. Mas nós teríamos uma vida muito estranha se não tivéssemos desejos. Não é o que o Buddha falou. A palavra que o Buddha usou foi trishna e significa ‘sede’. Nas palavras do próprio Buddha isso foi descrito: “É como um homem vagando no deserto por muitos dias, sedento por água”. Isso também é a sede do ‘eu quero’ e do ‘eu não quero’, e é por isto que todos nós sofremos.

O que é este ‘eu quero’ e ‘eu não quero’? O que isso indica? Significa que não estamos satisfeitos com este momento, ‘agora’. Porque se estivéssemos ‘aqui’ (Rodney bate no chão), não haveria ‘querer’ nem ‘não querer’. Simplesmente haveria este momento, agora. O Buddha, utilizando-se deste exemplo, estava dizendo: “Esteja com este momento”. O momento em que você quer ou não quer é o momento em que você deixa o agora, o momento presente, e aí, então, isso leva ao sofrimento.

Então, esse desequilíbrio que temos faz com que nunca estejamos no momento e, não estando no momento, isso leva ao sofrimento. É muito simples. Agora você pode examinar a sua própria vida a partir dessas palavras.

Mas o Buddha não parou por aí. Ele nos deu uma cura para este ‘não estar no momento’, este sofrimento. Esta cura é a Terceira Nobre Verdade, que é a verdade mais mal entendida de todas.

Ele fala do Nirvana ou Nibbana, que é uma palavra que é usada em todas as línguas nos dias de hoje, mas ninguém sabe o que significa. A palavra é muito simples. Significa expirar, apagar – como apagar uma vela. Muito simples! O Buddha apenas usava palavras simples, mas mesmo assim elas foram totalmente mal compreendidas, porque geralmente ela é traduzida como extinção do desejo. Correto? Não significa de modo algum isto.

No tempo do Buddha, a palavra nirvana, apagar, significava simplesmente isto: apagar. Mas havia uma grande diferença. De acordo com a ciência e a filosofia do Vedanta, quando você apaga uma chama, como em uma vela ou em uma lâmpada de óleo, você diz que a chama ficou livre. Quando você acende uma vela, você captura a chama, como se a colocasse numa gaiola. Então, em ‘nossa’ idéia de apagar uma vela nós dizemos ‘extinguir’ ou ‘matar’; mas, na época do Buddha, apagar uma chama significava libertá-la. Da mesma forma como seu “bolo”; coisas completamente diferentes!

Então, o Buddha nunca disse algo como matar os seus desejos; ele falava da libertação ou liberdade deste apego ao ‘eu quero’ ou ‘eu não quero’. Quando você abandona isso, então a sua vida entra num equilíbrio. Aí, então, você está completamente livre. Este é um ensinamento maravilhoso, porque ele é prático e você pode vê-lo em sua própria vida.

Se você sempre está no momento, você não pode sofrer, você está livre para ir para o próximo momento, livre para seguir para o próximo momento, sempre totalmente livre, sem estar preso no ‘eu quero’ ou ‘eu não quero’. E é isso que o Buddha ensinava. Ele, então, nos deu o Caminho Óctuplo como uma forma de alcançar isso. Da mesma forma como as pessoas dizem hoje: “Como eu posso levar esta prática para a minha vida?”, o Buddha nos deu a resposta. É o Caminho Óctuplo: A Compreensão Correta, o Pensamento Correto, a Linguagem Correta, a Ação Correta, os Meios de Vida Correto, o Esforço Correto, a Vigilância Correta, a Concentração Correta. Mas cuidado com a palavra ‘correto’, porque ‘correto’ implica que há um ‘errado’, e o Buddha não usava a palavra desta forma; o Buddha não falava desde um ponto de vista dualista.

Uma palavra melhor do que ‘correto’ é ‘apropriado’. Linguagem Apropriada, Pensamento Apropriado, Compreensão Apropriada, etc. Vamos, então, apenas examinar um desses fatores, utilizando a palavra ‘apropriada’ ao invés de ‘correta’. Linguagem Apropriada significa não falar mal de uma outra pessoa, não utilizar palavras para se mostrar, não utilizar palavras para sugerir algo que não é correto. Há muitos exemplos em suas vidas. Simplesmente falar demais é uma linguagem inapropriada. Podemos falar que ler demais também é uma linguagem inapropriada, ou ver televisão demais também seria linguagem inapropriada.

O que o Buddha quis fazer ao ensinar sobre essas várias ações não apropriadas foi nos dar um instrumento para examinarmos as nossas próprias vidas. O que significa ‘apropriado’ em termos de nossa vida? Significa Linguagem, Ação e Pensamento que nos ajudam a nos livrarmos de nosso desequilíbrio, de nosso dukkha.

O Caminho Óctuplo usado apropriadamente irá nos ajudar a colocar a nossa vida em equilíbrio. Isso não é algum ensinamento esotérico, nem aquilo que freqüentemente acontece no ensinamento mal compreendido sobre o que o Buddha ensinou.

As Quatro Nobres Verdades são muito práticas, baseadas na vida real. É um ensinamento sobre como viver a sua vida. E posso assegurar a vocês, que se lerem qualquer ensinamento do Buddha que parecer muito distante de sua vida agora, isso é uma tradução ruim. Porque o Buddha era um homem prático e inteligente, que olhava profundamente para o que fazemos conosco. A partir daí, ele nos ofereceu um modo de sair disso. Espero que isso que falei sobre as Quatro Nobres Verdades tenha lançado um pouco de luz. Muito obrigado!

 

fonte:
http://www.sotozencuritiba.org/quatro_nobres_verdades.php