> A ligação da Ayahuasca com o Xamanismo » Universo Místico
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Inicialmente, quando se fala em xamanismo, em virtude do senso comum, já se pensa em índios ou culturas indígenas americanas. De acordo com Léo Artese (2007), conhecido ayahuasqueiro, terapeuta holístico e estudioso do tema, o xamanismo não diz respeito somente aos ensinos espirituais indígenas, apesar de terem sido os grandes protetores desta ideia. Léo Artese¹ possui conhecimento vasto sobre xamanismo, portanto nos ajuda a compreender melhor esta ligação. “A palavra xamanismo foi criada por antropólogos para definir um conjunto de crenças ancestrais.

Para mim é um caminho de conhecimento. Nós podemos perceber traços do xamanismo em várias religiões. (ARTESE, Léo. 2007 in: Artigo digital o que é xamanismo)”.

O princípio do xamanismo, segundo Artése vem dos homens primitivos e datam de 40.000 a 50.000 anos atrás. Seria um legado universal da raça humana que permite a “jornada da consciência”. A compreensão primordial seria a que todos os indivíduos fazem parte de uma única teia da vida e tudo e todos estão interligados. Seria uma das primeiras formas de conhecimento do mundo, onde um indivíduo denominado xamã, conduz os participantes para outras dimensões. O xamã também é conhecido como mago, curandeiro, líder espiritual, médico ou homem medicina que tem o poder de curar e fazer milagres.

Edward MacRae² (1992), referência por ter pesquisado o xamanismo no mundo hoasqueiro, afirma que para compreendermos o sentido antropológico da palavra xamã, é necessário recordar que sua origem vem da tribo dos Tungs da Sibéria, mas que suas práticas são representadas em todo globo.

Durante um rito xamanístico, um visionário inspirado, o xamã, entra em transe profundo e, em nome da sociedade a qual serve e com a ajuda de espíritos protetores, estabelece relações com as entidades espirituais. O xamã, então, viaja em direção a uma realidade extraordinária para ajudar os membros de sua comunidade. (MacRae, 1992. p. 18)

Isso é feito através de plantas que possibilitam a ampliação ou estados alterados da consciência, como as psicoativas e enteógenas. Germán Zuluaga (2004 in: O Uso Ritual da Ayahuasca), médico que desde 1983 mantém contato com indígenas Inganos do piemonte amazônico colombiano, explana no livro organizado por Beatriz Labate, no qual contém diversos artigos científicos com mais de 25 autores, que o uso destas plantas já foi considerado diabólico e até mesmo tóxico pela sociedade, mas que, no entanto, desde o século passado, graças aos ocidentais, estas substâncias estão sendo inseridas novamente ao contexto social em virtude dos benefícios.

A antropologia dos últimos trinta anos mostra que vários grupos indígenas, especialmente na América, ainda continuam praticando o xamanismo e consumindo plantas alucinógenas. Apesar dos quinhentos anos de perseguição, genocídio e barbárie, a sabedoria xamânica se conserva viva em muitos povos. O homem branco começa a mudar a perspectiva moral e se ingressa por conhecer e estudar os conhecimentos tradicionais dos aborígenes e os extraordinários efeitos dessas plantas, até agora menosprezadas. ZULUAGA, 2004. p. 131)

Tanto mulheres como homens podem ser xamãs. Através de experiências xamânicas, o indivíduo sai do torpor convencional e consegue enxergar além de sua limitação física e, por meio de uma invocação interna, defronta-se com suas questões existenciais, sendo induzido a sair de sua zona de conforto.

O uso de psicoativos para variados fins, mas principalmente na busca de cura e contato com o divino, ocorre historicamente em muitas regiões do mundo. Os textos sagrados da Índia e os poemas épicos de Homero, na Grécia, trazem relatos sobre o uso de plantas e outras substancias naturais para provocar alterações de consciência. Ate em regiões tão ermas quanto a Sibéria usou-se cogumelos alucinógenos para fins xamânicos. (MacRae, 1992. p. 35)

Zuluaga identifica também que as práticas xamânicas, nos meios indígenas e religiosos, principalmente na região amazônica, mantiveram-se ao longo dos tempos conservadas através do consumo da Ayahuasca. Esta região, onde inúmeras tribos compartilham do uso destas plantas, foi denominada por antropólogos de “a cultura do yagé”, que de acordo com o autor, é considerada a tradição que “conserva o maior grau de pureza do planeta”. (ZULUAGA, Germán. In: O Uso Ritual da Ayahuasca. 2004. p. 133)

 

  1. Léo Artése é ayahuasqueiro e fundador do site: http://www.xamanismo.com.br
  2.  MacRae é autor do livro “Guiado pela Lua. Xamanismo e o Uso Ritual da Ayahuasca no Culto do Santo Daime”. Outro autor que também é referência é Mircea Eliade.