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Muitas pessoas que ainda não comungaram a Ayahuasca possuem inúmeras dúvidas sobre o que é, o que acontece após a ingestão, quanto tempo dura o efeito e o que acontecerá durante e depois. Existem alguns estudos acadêmicos que podem te ajudar a esclarecer algumas dúvidas e te deixar mais seguro em relação ao uso da Ayahuasca. Vamos lá?

Para trazer as referências sobre a atuação da Ayahuasca neste cenário contemporâneo, trabalharemos com a obra co-organizada pela autora Beatriz Labate e Wladimir Sena Araújo, “O Uso Ritual da Ayahuasca”, que traz observações diretas sobre a medicina, através de diversos artigos publicados por mais de 20 pesquisadores desta área. Beatriz Labate é uma das pesquisadoras mais renomadas deste contexto e já coordenou outros estudos sobre o uso ritual de plantas de poder.

Entre os campos de estudo, os que mais aparecem encabeçando as pesquisas, são: antropologia, medicina, psicologia e psiquiatria. Há ainda a literatura não-acadêmica, que, como afirmou Bia Labate, é formada  por associados de grupos hoasqueiros e contempladores ou críticos destes rituais. Nesse sentido, Labate afirma que os livros de Alex Polari (1984) são os que mais se destacam. Outro fator importante a ser ressaltado é que entres as doutrinas mais conhecidas, a do Santo Daime é a que mais possui estudos realizados, chegando a ser desproporcional se forem comparados com outras religiões que fazerem uso do chá.

 

A Ayahuasca:

A Ayahuasca é uma bebida sacramental, enteógena, de origem ancestral, formada a partir da junção de duas plantas: Um cipó chamado Banisteriopsis Caapi, mais conhecido como Marirí ou jagube e uma folha do arbusto Psychotria Viridis, a Chacrona – que contém o princípio ativo dimetiltriptamina (DMT). Segundo Beatriz Labate (2004), a alquimia é também conhecida por santo daime, yagé, hoasca, vegetal, pindé, dápa, mihi, vinho da alma, professor dos professores, cipó dos mortos, pequena morte, entre outros. O nome mais conhecido, Ayahuasca, significa “liana (cipó) dos espíritos”.

O líquido é ocre-amargo. Em língua quíchua, significa o “vinho das almas ou liana dos sonhos. Aya quer dizer “morto” e ehuasca, “cipó”. Em pesquisa feita em Pucallpa, no Perú, Labate também encontrou o seguinte significado: “soga de muerto” ou soga de los muertos”, que significa “corda de morto” ou “corda dos mortos”. A palavra “Enteógeno” é derivada do grego “entheos”, seu significado é “Deus dentro”, por isso, ayahuaqueiros definem-a como uma substância que cria uma experiência de contato com o divino dentro de si.

De acordo com Labate, foi utilizada pelos Incas e por, pelo menos, 72 tribos indígenas diferentes da Amazônia. É utilizada em países como Peru, Equador, Colômbia, Bolívia e Brasil. Foi em 1930 que passou a ser utilizada em cultos organizados no Brasil, inicialmente pelo maranhense Raimundo Irineu da Serra, fundador do grupo Santo Daime. De acordo com Mauro Almeida (2004), o uso ritualístico da bebida saiu do âmbito indígena amazônico para, então, difundir-se entre seringueiros da floresta, cultos urbanos ou vegetalistas andinos. Expandiu-se pela América do Sul e até mesmo outros países, sendo os mais conhecidos o Santo Daime, a União do Vegetal (UDV) e a Barquinha. Em um livreto do grupo UDV há a seguinte declaração:

“Trata-se de uma religião que já existira na terra, muitos séculos antes de Jesus Cristo. Sua origem data do século X A. C., no reinado de Salomão, rei de Israel. Por razões diretamente ligadas ao baixo grau de evolução espiritual da humanidade na época, a União do Vegetal desapareceria por longo período. Ressurge entre os séculos V e VI, no Peru, na civilização Inca (cujo advento e apogeu a historiografia oficial registra apenas entre os séculos XIII e XIV).” (“União do Vegetal Hoasca Fundamentos e Objetivos”, p. 35)

A Ayahuasca é considerada como uma substância capaz de conceder experiências com o Divino e com outras dimensões. Uma bebida sagrada. Ela atua como orientadora de conduta e permite a evolução espiritual e material do indivíduo. Alguns associados do grupo chamam de “planta mestra” ou “planta de poder””.

Segundo Jacques Mabit (2004) a bebida é uma planta mestra e possui as características para promover a experiência de sentido. O efeito da Ayahausca é alcançado em virtude da composição química das plantas que a compõe. Dentre os efeitos do chá, está a produção de estados visionários intensos, aumento da sensibilidade auditiva, alteração da frequência respiratória, modificação da noção do tempo, sensações de enjoo, visões celestiais ou demoníacas, meditação profunda, estados de êxtase espiritual, viagens astrais, mirações e uma “limpeza” -, que seria o processo de descondicionamento e descontaminação de antigos invólucros, musculares e psíquicos. Por isso, o sujeito passa por um processo purgativo, que Zuluaga definiu como limpeza do organismo (vômito e diarréia), dos sentimentos (através de lágrimas, gargalhadas e até mesmo da fala) e lembranças, assim, tem também um efeito curativo. Ao mesmo tempo que encanta alguns participantes ela pode também chocar.

O fundamento do conteúdo das sensações durante o transe com yagé reside precisamente nesta experiência catártica, que coincide com a já clássica e célebre descrição de Eliade:

“‘sofrimento, morte e ressurreição rituais’. O yagé é o veículo sagrado para ingressar no mundo espiritual, mas ao mesmo tempo é o encarregado de limpar o viajante para que possa ingressar em estado de pureza nesse mundo.” (ZULUAGA, 2004, p. 144. In: O Uso Ritual da Ayahuasca, Orgs. Labate e Sena)

Mabit também explana que, no contexto geral, a Ayahuasca amplia as percepções sensoriais e a atividade cerebral, onde o sujeito percebe um alargamento da sua própria consciência permitindo-o transcender seu ego. Desta forma, aumentam os insights, a capacidade para refletir e de resolver problemas. Para o autor, as visões são capazes de transformar a vivência diária do indivíduo, sua conduta e seu caráter, mesmo que ele não tenha reconhecido o sentido e a raiz de suas visões. O sujeito, então, tem a oportunidade de descobrir realidades múltiplas ou outras óticas sobre a realidade na qual existe, integrando seu coração, seu corpo e sua materialidade. Além desses efeitos, Mabit também afirma que a Ayahuasca é uma substância psicoativa para as pessoas que buscam novas perspectivas sobre as questões existenciais.

Após o sujeito ingerir a Ayahuasca, o efeitos começam em meia hora e duram em torno de três ou quatro horas. Além dos efeitos físicos, Zuluaga esclarece que o transe xamânico que a Ayahuasca proporciona, possibilita uma viagem ao mundo dos espíritos e aqueles que tiveram esta experiência não duvidam nenhum segundo sequer da veracidade de suas visões, sensações, sons e ensinamentos recebidos. Há também no documentário, esclarecimentos de que os neurônios são energizados, e aumenta-se a capacidade intelectual, paranormal e criativa do sujeito que a ingeriu.

Também existem relatos em nosso site que vão de encontro ao que os estudos definem sobre o assunto, de experiências que permitiram visões esclarecedoras, transformações nas relações interpessoais, êxtase espiritual, intuição e clareza para tomada de decisões, integração com o universo, viagens astrais e entendimento sobre seu “real ser”.

Inúmeras pesquisas tem mostrado que o uso da Ayahuasca não é maléfico, mas sim terapêutico, pois concede transformações positivas e benéficas aos indivíduos que tiveram contato com a bebida. O psicólogo José Arturo Costa Escobar (2012), em sua tese sobre a saúde mental de religiosos ayahuasqueiros, demonstra que a atitude de indivíduos após o contato com o chá acontecem por processos psicológicos que permitem a transformação, principalmente no que diz respeito a reestruturação do ego e do self.

Escobar aponta que o princípio ativo DMT da folha da Chacrona que forma a Ayahuaca, evidencia segurança na administração em sujeitos saudáveis e que, em estudo clínicos defendem a Ayahuasca como ingrediente importante na psicoterapia.

“Acessos psicológicos e psiquiátricos de membros do Santo Daime nos Estados Unidos mostraram resultados que sustentam a segurança da administração da ayahuasca de modo ritualizado e sugerem seu potencial psicoterapêutico”. (ESCOBAR. 2012. p. 39)

De acordo com a pesquisa de Escobar, os principais resultados foram a verificação de que os 60% dos integrantes da análise, que apresentavam sérios problemas em seu passado, asseguraram que melhoraram psicologicamente depois que começaram a frequentar grupos religiosos com a Ayahuasca. Dos que tinham problemas com drogas e álcool, num quadro de 24 pessoas, 22 delas afirmaram que se libertaram de seus vícios após começarem a frequentar o Santo Daime. Parece que, de acordo com Escobar, os motivos reais pelos quais o Yagé promove esta melhoria nos indivíduos ainda é uma incógnita para ciência. Contudo, é notório observar que nestes sujeitos se observa um nível saliente de espiritualidade. Escobar relata que o reconhecimento da Ayahuasca como opção de transformação faz com que ela seja utilizada para tratamento de abuso de substâncias, principalmente o álcool.

 

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